Empréstimo fruto de um mau planejamento

Foto: Ricardo Duarte/ClicRBS

A notícia a respeito da assinatura de um empréstimo de € 5 milhões (cerca de R$ 11,8 milhões) junto a um fundo de investimentos inglês repercutiu bastante nesta semana. Tanto que Paulo Odone, que raramente criticava a atual direção, não aguentou e afirmou que o Grêmio gastou demais em 2010. Duda Kroeff respondeu, dizendo que assumiu o clube numa situação igual ou pior.

O empréstimo tem previsão de quitação em cinco anos através de juros considerados baixos, segundo a imprensa. O grupo de investimentos terá como garantia a participação nos direitos federativos de jogadores como Victor, Mário Fernandes, Adilson e Jonas. Se estes forem vendidos antes, outros jogadores serão incluídos nesse acordo.

O que fica claro nesse episódio é que faltou maior integração entre o Departamento de Futebol e o Departamento Financeiro do clube, sendo que este foi o grande destaque na administração de Duda Kroeff, devido ao trabalho feito por Irany Sant’Anna Jr. Foi devido ao seu grande serviço que a dívida do condomínio de credores caiu consideravelmente nesses dois anos.

No entanto, de que adianta ter um excelente trabalho para saudar antigas dívidas, se o clube gasta demais e gera novas dívidas? Onde está o planejamento em longo prazo? São essas questões que surgem diante desse empréstimo. Além disso, Irany já reclamou publicamente dos gastos excessivos vindo do futebol, quando ainda era comandado por Luiz Onofre Meira.

Fato é que existe sim um gasto excessivo no futebol. Tanto é que atual direção teve de antecipar receitas da televisão, do Banrisul e da Puma. Não estou criticando apenas Duda, Paulo Odone fez a mesma coisa. Mas o que agrava o estado financeiro é esse empréstimo, para conseguir pagar os salários dos jogadores. Pior, salários altíssimos para alguns atletas que pouco rendem.

Pegarei o exemplo do Souza. Embora haja gente que discorde, considero um jogador importante para o elenco, mas concordo plenamente com a tese da supervalorização do meia. Ele não é craque, nunca foi, nunca será. Mesmo assim, o salário que ele recebe é de craque, acima da casa dos R$ 250 mil mensais. Leandro é outro, visto que estamos fechando 2010 e ele sequer fez um gol com a camisa do Grêmio. Apesar disso, ele também ganha algo próximo de R$ 250 mil (fonte).

Fazendo um paralelo, Giuliano, talismã colorado na Libertadores, recebe cerca de R$ 150 a R$ 200 mil, sendo um jogador mais jovem e mais barato do que Souza, Hugo e Leandro. D’Alessandro está nas casa dos R$ 300 mil (fonte), recebe um salário comparado aos dos meias gremistas, mas a relação custo e benefício dele é muito melhor (não incluo Douglas nessa crítica).

O Grêmio tem, em seu elenco, atletas com supersalários que pouco jogaram. Uma folha salarial que chegou ao patamar dos R$ 4,5 milhões seria digno de um grupo que conquistou grandes títulos. Contudo, a única coisa que o Tricolor conquistou neste ano foi um Gauchão. Então, o gasto é absurdo, desproporcional à realidade gremista. Esse foi o grande erro da atual gestão.

A futura direção pretende cortar gastos, então podemos esperar a dispensa de alguns atletas, como Leandro. Mas isso não é o bastante. Departamento de Futebol e Financeiro precisam trabalhar juntos, falar a mesma língua, para que os erros cometidos em 2010 não se repitam. Mais importante é um planejamento em longo prazo, saber o quanto deve gastar no máximo, para que o clube não corra o risco de transformar suas obrigações financeiras como uma bola de neve descontrolada. Exatamente isso que ocorreu neste ano.